Neurologista em Curitiba | Dr. Aloisio Ponti Lopes

Epilepsia: tipos de crises e como identificar

dezembro 5, 2025 | by draloisiopontilopes

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Índice

  1. O que é uma crise epiléptica?
  2. Crises focais (parciais): o que são e como se manifestam
  3. Crises generalizadas: principais tipos e sinais
  4. Crises desconhecidas: quando a origem não é clara
  5. Como saber qual tipo de crise é?
  6. O que fazer durante uma crise epiléptica?
  7. Quando procurar ajuda médica de emergência?
  8. Perguntas frequentes sobre crises epilépticas

O que é uma crise epiléptica?

Uma crise epiléptica é um distúrbio súbito e temporário da atividade elétrica do cérebro, que pode causar alterações na consciência, movimentos, sensações, emoções ou comportamento. Ela ocorre quando grupos de neurônios disparam sinais de forma anormal e sincronizada.

É importante saber: ter uma crise não significa que a pessoa tem epilepsia. A epilepsia é diagnosticada quando há duas ou mais crises não provocadas (sem causa imediata, como por exemplo febre alta ou abstinência de álcool).

Hoje, os especialistas classificam as crises com base em onde começam no cérebro — e essa classificação é essencial para o diagnóstico e tratamento correto.


Crises focais (parciais): o que são e como se manifestam

As crises focais começam em uma área específica de um hemisfério do cérebro. Podem ou não afetar a consciência e são divididas em dois subtipos:

Crise focal sem perda de consciência (antiga “crise parcial simples”)

  • A pessoa permanece alerta e consciente
  • Pode sentir:
  • Formigamento, dormência ou sensação de “choque” em uma parte do corpo
  • Cheiros, sons ou sabores estranhos
  • Medo súbito, déjà-vu ou sensação de “arrepio”
  • Movimentos repetitivos (como piscar, mastigar, mexer os dedos)

Exemplo: uma pessoa sente um gosto metálico e vê “luzes” por alguns segundos, mas sabe exatamente o que está acontecendo.

Crise focal com perda de consciência (antiga “crise parcial complexa”)

  • A pessoa fica confusa, “ausente” ou em estado de sonho
  • Pode fazer movimentos automáticos (“automatismos”):
  • Andar sem rumo
  • Desabotoar roupas
  • Murmurar palavras sem sentido
  • Não lembra do que aconteceu após a crise

Muitas vezes, essas crises são confundidas com “desmaios” ou “ataques de pânico”.


Crises generalizadas: principais tipos e sinais

Nas crises generalizadas, a atividade anormal envolve os dois hemisférios do cérebro desde o início. São mais dramáticas e incluem:

1. Crise tônico-clônica (a mais conhecida, antigamente chamada de “grande mal”)

  • Fase tônica: corpo enrijece, pessoa cai, pode gritar
  • Fase clônica: movimentos rítmicos e vigorosos (sacudidas) nos braços e pernas
  • Pode haver mordida na língua, perda de urina e confusão pós-crise
  • Dura de 1 a 3 minutos

2. Crise de ausência (“pequeno mal”)

  • Comum em crianças entre 4 e 14 anos
  • A criança “trava” por 5 a 10 segundos, com olhar fixo e leve piscar
  • Volta ao normal imediatamente, como se nada tivesse acontecido
  • Pode ocorrer dezenas de vezes por dia, atrapalhando o aprendizado

3. Crise tônica

  • Enrijecimento súbito dos músculos (braços, pernas, tronco)
  • Comum durante o sono
  • Pode causar quedas se ocorrer em pé

4. Crise atônica (“crise de queda”)

  • Perda súbita do tônus muscular → a pessoa desaba como um “boneco de pano”
  • Alto risco de lesões na cabeça

5. Crise mioclônica

  • Espasmos rápidos e repentinos, como “choques”, geralmente nos braços
  • Pode ocorrer em série, ao acordar

6. Crise epiléptica generalizada não motora

  • Alterações na consciência sem movimentos visíveis (mais rara)

Crises desconhecidas: quando a origem não é clara

Às vezes, não é possível determinar onde a crise começou — por falta de testemunhas, exames inconclusivos ou gravações insuficientes. Nesses casos, a crise é classificada como “de início desconhecido”.

Com o tempo e exames como o eletroencefalograma (EEG) de longa duração ou vídeo-EEG, muitas dessas crises podem ser reclassificadas como focais ou generalizadas.


Como saber qual tipo de crise é?

O diagnóstico é feito por um neurologista e envolve:

  • Relato detalhado de quem presenciou a crise (vídeos de celular ajudam muito!)
  • Eletroencefalograma (EEG): registra a atividade elétrica do cérebro. Normalmente este é o exame mais importante . Pode ser feito em meia hora, ou mais prolongado, até 24, 48 ou 72 horas.
  • Tomografia e Ressonância magnética (RM): identifica lesões estruturais (como cicatrizes, tumores ou malformações)
  • Exames de sangue: para descartar causas metabólicas

⚠️ Importante: o tipo de crise define qual medicamento antiepiléptico usar — alguns remédios pioram certos tipos de crise!


O que fazer durante uma crise epiléptica?

Mantenha a calma
Deite a pessoa de lado (posição lateral de segurança)
Afaste objetos perigosos ao redor
Afrouxe roupas apertadas (como gravata ou gola)
Cronometre a duração da crise
Fique com a pessoa até ela recuperar a consciência

NÃO FAÇA:
❌ Não coloque nada na boca
❌ Não segure os braços ou pernas
❌ Não dê água ou remédio durante a crise
❌ Não tente “acordar” a pessoa com sacudidas


Quando procurar ajuda médica de emergência?

Ligue para o 192 (SAMU) ou vá ao pronto-socorro se:

  • A crise durar mais de 5 minutos
  • A pessoa tiver uma segunda crise seguida
  • A crise ocorrer em água (risco de afogamento)
  • A pessoa não recuperar a consciência após a crise
  • For a primeira crise da vida
  • Houver lesão grave durante a crise (ex: fratura, corte profundo)

Perguntas frequentes

1. Crise epiléptica mata?
Raramente. A maioria das crises termina sozinha. Porém, crises prolongadas (estado epiléptico) ou acidentes durante a crise podem ser fatais — por isso o controle é essencial.

2. Todo mundo com epilepsia tem convulsões?
Não! Muitas crises não envolvem sacudidas — como as ausências ou crises focais com aura.

3. Criança pode “perder” a epilepsia com o tempo?
Sim! Algumas formas de epilepsia infantil (como a benigna com pontas centrotemporais) desaparecem na adolescência.

4. Existe app para registrar crises?
Sim! Apps como Epsy, Seizure Tracker ou My Epilepsy Diary ajudam a monitorar frequência, duração e gatilhos.


Conclusão

Conhecer os tipos de crises epilépticas é fundamental para entender a condição, buscar o tratamento certo e agir com segurança. A epilepsia é altamente controlável na maioria dos casos — com diagnóstico preciso, medicamentos adequados e apoio.

Se você ou alguém próximo tem crises, não sofra em silêncio. Procure um neurologista ou centro de epilepsia. Viver bem com epilepsia é possível.


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